segunda-feira, 5 de novembro de 2007

egito >>> "feito água de cacimba"



Este mural da tumba de Nebamun pode nos mostrar de forma simples uma das principais características da arte Egípcia. A maneira como os egípcios representavam o mundo é bem diferente da nossa. A clareza era a principal preocupação. Vemos nesta imagem como o artista deixa de lado preocupações de ângulo, perspectiva e proporção para representar cada elemento da cena a partir de sua vista mais característica. Para nós é meio estranho representar um cenário sem antes escolher um único ponto de vista e desenhar tudo a partir dele. Para o artista egípcio o normal era ver as coisas de diversos pontos de vista. Percebam que a piscina é vista do alto (que é a vista mais clara para representa-la plenamente) enquanto que as árvores ao redor são vistas lateralmente, como se estivessem deitadas no chão (pois este é seu ângulo mais característico). Da mesma maneira os peixes dentro da piscina não seriam mostrados de forma clara se vistos de cima, logo o artista faz com eles o que fez com as árvores e assim pode representa-los em sua riqueza de espécies. Outro detalhe que reforça esta clareza é a forma como cada galho da árvore é mostrado. Sabemos que na natureza não podemos ver todos os galhos de uma árvore de um ponto de vista lateral porque a maioria é ocultada pela folhagem. Isso mostra que o artista egípcio não era um negligenciador ou desconhecedor da natureza, pelo contrário, conhecia as formas naturais a tal ponto que em uma análise um biólogo moderno poderia destacar cada uma das espécies de peixe presentes na piscina, ou cada uma das várias espécies de árvores representadas em volta dela.

Esta imagem pode nos dizer bastante sobre o estilo da arte egípcia. Um estilo de incessante regularidade geométrica combinado com uma penetrante observação da natureza. Outro ponto que devemos considerar é que essa e muitas outras representações artísticas egípcias eram feitas para ficar enclausuradas nas tumbas e não para serem apreciadas. À arte era conferido um status de guardiã da eternidade. Logo, esse pode ser um dos motivos da escolha por não representar a natureza tal qual ela se apresenta a nós. A representação estava mais ligada aos significados de cada elemento representado do que a mera fidelidade realista. Por exemplo, a figura feminina no canto superior direito do mural é a deusa das árvores Hathor. Perceba como ela está proporcionalmente maior que uma pessoa normal estaria dentro deste cenário. Ela tem quase o tamanho das árvores e isso parece ter sentido já que se trata de uma divindade. Para o artista egípcio isso fazia muito sentido. Não só os deuses, mas figuras masculinas geralmente eram representados maiores que as figuras femininas, filhos desproporcionalmente menores que os pais mesmo que fossem da mesma altura, etc. A busca da clareza e do significado das representações criava um conjunto de rígidas regras de representação e neste contexto o melhor artista não era aquele que quebrava com as tradições(como nas vanguardas) mas aquele que melhor representava fielmente as formas tradicionais. Essas regras de representação podem ser melhor exemplificadas na figura humana:



Esta é uma imagem de Hesire, importante escriba Real carregando suas ferramentas de trabalho, escavada numa porta de madeira em sua tumba. O conceito da clareza também aplica-se aqui. A cabeça era representada sempre de perfil, que é o ângulo onde todas as partes da face se sobressaem mostrando seu tamanho e forma. Para os egípcios este era o ângulo mais claro para se representar a cabeça. Os olhos, ao contrário do restante do rosto, eram vistos de frente, pois esse era seu ângulo de maior clareza, para os egípcios. Percebam que pouco importa se os olhos vão destoar do restante do rosto, o importante é mostrá-los de forma clara. O peito era mostrado sempre de frente, não importando que movimento ou ação a figura estivesse fazendo. As pernas seguiam a lógica da cabeça e estavam sempre abertas para dar equilíbrio a figura, o que nos da a impressão muitas vezes de que a figura está caminhando. Os pés são a parte mais bizarra das regras de representação da figura humana dos egípcios. Como para eles a vista mais clara de um pé era a vista interna, eles sempre desenhavam os dois pés iguais, deixando a figura com dois pés esquerdos ou dois pés direitos. Outras regras buscavam mais um significado do uma clareza: as estátuas sentadas deviam ter as mãos sobre os joelhos; os homens eram sempre pintados com a pele mais escura que as mulheres; cada Deus possuía uma forma característica, etc.
Essas regras mudaram um pouco no “Novo Reino”, 18º dinastia, no reinado de Akhnaton, mas essas mudanças não perduraram, tendo terminado já no reinado seguinte, de Tutankhamon.

autor da postagem: raonix
bibliografia: GOMBRICH, E.H. A HIstória da Arte. Editora LTC, 16º Ed, 1999.



hehehe, fiz esse desenho pra v como era o estilo da galera do nilo. os caras eram foda, faziam tudo na munheca.

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