segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Grécia >>> parte I

Os gregos tinham na arte egípcia e assíria suas principais referencias. Contudo sua concepção de arte ultrapassava o mero culto a formas padronizadas e tradicionais. O artista grego gozava de uma certa liberdade criadora e de um espírito de investigação da natureza. Enquanto para o artista egípcio a satisfação era alcançada na repetição de formas tradicionais com milênios de existência, para o artista grego interessava pintar e esculpir as coisas tal qual as via não importando se estaria quebrando regras. A arte esquemática e tradicionalista vinda de outras regiões servia de ponto de partida para a construção de novas formas de representar a realidade baseadas na observação. Como diz Gombrich: “Os egípcios tinham baseado sua arte no conhecimento. Os gregos começaram a usar os próprios olhos”. O artista egípcio também se valia da observação das coisas, mas ao contrário da arte grega a arte egípcia possuía limites muito estreitos para suas representações, limites impostos pela religião e pela autoridade teocrática.



Nessa imagem das estátuas dos irmãos Cleóbis e Biton feitas pelo escultor Polímedes, podemos notar a semelhança formal com as esculturas egípcias. Contudo, se olharmos para o joelho das estátuas poderemos perceber como o artista grego preocupou-se em dar a sua interpretação (baseada em observação) de como o joelho deveria ser representado. Ele poderia seguir o modelo de joelho egípcio como fez na maioria das formas, mas preocupou-se em se aventurar, em experimentar uma outra maneira de representar a figura, mesmo que esta experiência tenha resultado numa solução não tão boa quanto a dos seus colegas do Nilo. O que está em jogo é a experimentação e não os modelos consagrados.

A Grécia era constituída por cidades estado independentes. Lá não havia um governo centralizado que ditava as normas a serem seguidas pelos artistas como acontecia no Egito. Esse pode ser um dos motivos que contribuíram para essa liberdade artística. Também é importante lembrar que foi na Grécia que surgiu uma nova forma de pensamento que deu origem a ciência e a filosofia. Os paradigmas podiam ser contestados e a busca de novas interpretações e de explicações racionais para os fenômenos da natureza era comum. Assim o artistas grego residia num ambiente favorável as suas experimentações visuais na busca de formas mais naturais de representação. Ele não estava entre os membros mais abastados da sociedade, pelo contrário, seu status se reservava ao de um mero operário. Porem a atmosfera de pesquisa e busca de novos paradigmas era compartilhada por todos os cidadãos da polis em maior ou menor escala, filósofos ou não.



Esta cerâmica se chama “A despedida do Guerreiro” e foi feita em estilo de pintura vermelha por Eutímides. Reparem como ele desenhou o pé visto de frente, até então isso era novidade, nenhum dos artistas das civilizações anteriores havia se aventurado a desenhar o pé dessa forma. Essa busca pelo desenho em escorço mostra uma quebra com os modelos de representação tradicionais e ao mesmo tempo uma tentativa de conquista do espaço dentro da pintura. A preferência pela clareza geométrica existente na arte egípcia, da lugar a busca pelos ângulos e pontos de vista naturais das formas.
O artista grego queria representar as coisas tal qual as via. Mesmo assim, percebam como a figura ainda é geometrizada, os dedos são círculos enfileirados, o que mostra o longo caminho que a pintura ainda iria percorrer até o naturalismo.

A arte grega era feita para falar da vida dos Deuses. Sua função era ser ornamento e objeto de idolatria nos templos. Para um grego uma estátua da Deusa Atena podia representar a presença viva da própria deusa na terra. Os gregos faziam cerimônias e sacrifícios aos pés dessas estátuas em homenagem aos seus respectivos deuses. È interessante lembrar que as estatuas que conhecemos hoje, são cópias em mármore feitas no império Romano. As originais eram enormes, feitos de bronze, chegando a ter até 10m de altura. Alguns detalhes eram pintados com cores fortes e contrastantes como azul, vermelho e dourado. Também era costume colocar jóias no lugar dos olhos o que conferia vivacidade ao semblante, diferente das frias cópias em mármore romanas, com seus olhares vazios. Assim é mais fácil compreender o poder que estás imagens possuíam para o povo grego. Um poder que não pode ser confundido com a idolatria mágica de ídolos dos povos antigos, visto que as estátuas gregas representavam seu poder nas formas idéias de beleza do corpo humano, ao contrário das abstratas representações das comunidades tribais.

Outro objetivo da arte grega era enaltecer a figura de atletas vencedores dos jogos. Fazia parte da cultura grega a promoção de jogos esportivos como as olimpíadas. Esses eram disputados por célebres indivíduos da classe dominante pra testar suas aptidões físicas e saber quem era o escolhido pelos deuses. Esses escolhidos encomendavam estátuas para colocar ao redor dos templos. O atleta era como um herói para o povo grego e sua figura era muito respeitada. Talvez esse gosto por esportes tenha levado os escultores a colocar movimento em suas estátuas.
Enquanto os pintores descobriam as formas em escorço, os escultores conquistavam o movimento. Usando modelos vivos eles esculpiram estátuas de atletas em plena ação. Uma das estátuas mais característica dessa revolução é o Discóbolo. Feita pelo escultor Myron, essa estátua mostra um atleta arremessador de discos no momento em que se prepara para lançar.



A arte grega também foi responsável por representar pela primeira vez os sentimentos. A expressão dos sentimentos humanos através de gestos sutis dos movimentos corporais pode ser vista em obras como esta:



Neste vaso o artista ilustrou uma cena da história de Ulisses. O herói volta pra casa vestido de mendigo depois de dezenove anos distante e sua velha ama o reconhece ao lavar-lhe os pés e descobrir um antigo ferimento. A troca de olhares entre Ulisses e a velha transmite a carga dramática da cena e o sentimento que paira entre os dois personagens.

autor da postagem: raonix
bibliografia: GOMBRICH, E.H. A HIstória da Arte. Editora LTC, 16º Ed, 1999.

2 comentários:

Unknown disse...

pô... mto bom seu trabalho...

Unknown disse...

Muito bom 👌✌